quarta-feira, 5 de março de 2014

UMA ALUNA EM FORMAÇÃO ACADÊMICA

"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção". Paulo Freire


- Você tem jeito de professora! - Você tem jeito pra lidar com as crianças! - Você é professora?

Durante muitos anos ouvi frases como estas, até que fui trabalhar numa escola como agente organizacional, onde professores me incentivaram a cursar Pedagogia. Sempre gostei de ensinar, desde adolescente. E fiz uso desta prática sempre nas instituições religiosas que me vinculei. Contudo, professor não nasce professor, é um processo, como no meu caso, houve um clique, um momento, uma circunstância, e decidi entrar nessa carreira. Como relata Tardif em sua obra Saberes Docentes e Formação Profissional, adquiri meus saberes pessoais no ambiente de minha família, na educação que recebi, na socialização e trajetória de vida e convivência; também com os saberes de minha formação escolar e de cursos que me capacitaram a interagir, a ter relações interpessoais e a companhia constante de bons livros.

Agora, consciente de que depende de mim e, como diz Paulo Freire “ninguém forma ninguém" e "cada um forma-se a si próprio”, devo, portanto, voltar a ser aluna, seguir com os saberes provenientes da formação profissional para o magistério, com muito esforço e trabalho e, como diz Nóvoa, “cada um de nós constrói o conhecimento à medida que trabalha”.

Saber trabalhar em equipe vai ser fundamental para a construção de culturas de cooperação, para criar uma sinergia com a finalidade de que o desempenho do todo seja maior do que a soma de suas partes. Sei que será uma tarefa árdua e complexa, mas certamente gratificante.

De muita importância é a posição de Gauthier quanto ao “ofício feito de saberes”, o saber da ação pedagógica, resultado da relação de complementação estabelecida entre os demais saberes do professor, que o direcionam a decidir por esta ou aquela ação em cada caso específico de sala de aula. São eles: 

Saberes Disciplinares (a matéria) saber extrair aquilo que é importante ser ensinado, conhecer a matéria, sua estrutura, métodos e técnicas; Saberes Curriculares (o programa), conhecer os programas escolares, livros e materiais didáticos com base nas suas diretrizes, o programa de ensino; os Saberes das Ciências da Educação, o professor deve conhecer profundamente a escola como instituição, sua organização, funcionamento, um saber profissional; Saberes da Tradição Pedagógica (o uso) o que foi construído em etapas anteriores ao ingresso na carreira, a respeito da escola, do professor, dos alunos, dos processos de aprender e ensinar; Saberes Experienciais, um processo de construção individual e compartilhado com o coletivo. É preciso, segundo esses autores, que os saberes experienciais sejam verificados por meio de métodos científicos e, então, divulgados e reconhecidos como o saber profissional dos professores; e finalmente os Saberes da Ação pedagógica (o repertório de conhecimentos do ensino ou a jurisprudência pública validada) quando se tornam públicos e validados e construídos através de uma teoria pedagógica. Constitui um dos fundamentos da identidade profissional do professor. 

A partir dos resultados e análises apresentadas por Tardif e Gauthier pode-se afirmar que o processo que torna um professor o que ele é e que permite a aquisição e a construção dos saberes necessários à sua prática profissional é complexo e marcado por diferentes períodos, diferentes vivências e experiências.Com todos esses saberes, a contribuição da Didática para o docente é como um fio condutor de seu trabalho entre o saber-fazer, acompanhando a evolução social na medida em que interage com o mundo e com a sociedade. Desenvolve uma prática educativa forjadora de um projeto histórico, apresentando-se como o mecanismo tradutor de posturas teóricas em práticas educativas. A interação professor-aluno através da convivência, diálogo, recuperando o sentido da autoridade baseado em uma relação de respeito, solidariedade e confiança na construção do conhecimento do aluno.

Valdeti Stefanini
é Graduanda do Curso de Pedagogia UNAERP
e Educadora Social na cidade de Águas de São Pedro

domingo, 23 de fevereiro de 2014

EDUCAÇÃO: “A GENTE VÊ POR AQUI” (?)


          “O povo brasileiro não tem educação!” Quantas vezes já não ouvimos essa afirmação e todas as suas variações? Quando indivíduos (ou a coletividade) agem de forma incompatível com o modelo ideal de conduta estabelecido, ou contra o que costuma-se chamar de politicamente correto, afirmações como essas se tornam lugar-comum na grande imprensa, nas salas de aula, círculos intelectuais e nas conversas de bar. Quantas vezes você já não deve ter ouvido isso na fila do banco, no ponto de ônibus ou de um colega de trabalho. O que salta aos olhos, nessa frase, é o desagrado do declarante com determinada ação, individual ou coletiva, qualquer que seja. Contudo, somente um olhar mais detido e uma reflexão mais demorada (coisa cada vez mais rara em nossos dias, menos pela inexistência do objeto que por desistência do sujeito) ao significado desta afirmação pode nos levar a compreensão de sentidos tácitos adjacentes.
          Fica absolutamente clara, neste contexto, a percepção de que o termo “educação” não se refere a conteúdos programáticos de determinado seguimento escolar ou ao nível de desenvolvimento científico. Quando afirmamos que alguém não tem educação nem passa por nossa cabeça identificar seu nível de escolaridade. E mesmo quando sabemos que essa pessoa possui determinado percurso acadêmico, frente a uma atitude que consideramos incorreta, ética ou moralmente, logo desferimos o impropério: “mal educado!”
          Creio não ter dado nenhuma contribuição importante com as reflexões feitas até aqui. A Educação tem sim duas acepções, como afirmamos acima, e não há muito o que discutir neste sentido. Mas o que pretendo demonstrar aqui, em poucas linhas, diz respeito aos efeitos que a falta de educação no sentido escolar provoca na interpretação que o coletivo, que chamamos de “povo brasileiro”, faz dos apelos feitos pela mídia nacional, no sentido de promover uma mudança de atitude. Vou tentar me fazer mais claro.
          Você deve lembrar que o carro-chefe dos programas da Rede Globo, aos finais de semana, apresentou no final do ano de 2013 um quadro muito interessante a respeito das atitudes da população frente a algum caso explícito (por vezes até exagerado) de preconceito, humilhação ou ações antiéticas realizadas em espaços públicos. O quadro claramente tentava instigar a reação das pessoas em cada um dos eventos hipotéticos criados, valorizando as reações contrárias às atitudes alheias. Vimos um espetáculo de gentilezas e boas ações, de solidariedade e companheirismo, de amor ao próximo e caridade. A cada domingo esperávamos, ansiosos, às atitudes de nosso povo, que demonstrava uma educação incomparável, atitudes irrepreensíveis, um espírito indelével e pensávamos: “em que momento o povo brasileiro ficou tão educado?”
          Pois é. Diante dos mais recentes acontecimentos fui levado e lembrar daqueles episódios da série “Vai fazer o que?”, do Fantástico. Uma breve reflexão me fez lembrar de alguns de meus alunos, que não hesitariam em exclamar, em alto e bom som: “a casa caiu!”. Posso estar sendo um pouco exagerado e, no exagero, errar em minhas considerações, mas penso que pode haver uma relação direta, afinal de contas, por mais que a audiência dos programas da Rede Globo esteja em queda livre, especialmente aos domingos, essa audiência ainda representa cerca de 1,5 millhão de domicílios, só na Grande São Paulo. Assim, o aumento das manifestações sociais em todo o território nacional, manifestações que apelam à participação das massas, somado ao chamado feito pela série do Fantástico, pode ter culminado por promover uma reação do povo que não podemos chamar de outra forma que não “falta de educação”. Estamos falando das ações dos justiceiros, fatos que tem tomado cada vez mais espaço nos noticiários.
          Ladrões espancados, assaltantes linchados, bandidos amarrados e/ou trancafiados em postes e muros, sendo hostilizados pela mesma massa que deseja justiça, sai à rua nas manifestações com objetivos escusos e, assistindo ao dito quadro “Vai fazer o que?”, torcem pra ocorrer uma reação que fosse além do que os episódios demostraram. As interpretações de tais ações ainda precisam de tempo para serem analisadas. Talvez só a distância temporal possa nos esclarecer se há a relação que tentamos fazer aqui. Parece forçada, eu concordo. Mas não podemos ignorar o fato de que a falta de educação no sentido formal, ou seja, a grande quantidade de analfabetos, somada ao número de analfabetos funcionais, que penso estar em quantidade ainda maior no povo brasileiro, ao mesmo tempo que os impede de compreender sentenças simples em uma avaliação escolar dificulta a compreensão de chamados coletivos. Assim, enquanto não houver educação formal de qualidade, a educação informal terá dificuldade de aparecer. Não tenho intenção de defender ou criticar a ação da Rede Globo, já que não é possível saber quais as verdadeiras intenções por trás deste discurso. Só entendo ser uma atitude insuficiente. Se quisermos ver educação por aqui precisamos promover educação por aí. Mas a mídia, por melhor que seja, não serve de base para esse processo, ou no mínimo não será suficiente para tal.

Eliton de Almeida
Mestrando em História pela UNESP/Franca
Professor de História, História da Arte e Sociologia para o Ensino Médio

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tudo o que é sólido desmancha no ar


É com essa frase de Marx que Marshall Berman intitula seu livro, publicado na década de 1980, no qual acompanha e analisa a "aventura da modernidade". Foi a partir da leitura dessa obra que comecei a pensar efetivamente sobre o que alguns chamam de "revolução permanente", que acontece no Capitalismo e no mundo ocidental. Estaríamos vivendo numa época em que tudo se transforma incessantemente, numa época que tudo o que acreditamos cai em descrédito, todos os nossos valores são mudados, não temos algo a que possamos chamar verdadeiramente de "nosso"?
Que o mundo promove inovações em uma velocidade assustadora, creio que ninguém irá discordar. Mas isso não seria algo bom para o Homem? Por que, então, são justamente essas mudanças que estão nos jogando numa era de "ausência de valores", onde "tudo que era considerado sagrado é profanado"?
Sinceramente, penso ser essa uma característica demasiadamente capitalista. Essa "ausência de valores" talvez seja uma consequência daquilo que os membros e adeptos da conhecida Escola de Frankfurt chamam de "Indústria cultural", pelo fato de consumirmos algo que não nos faz sentido, e sim, uma cultura que não é a nossa, vendida como se fosse uma mercadoria qualquer.


O capitalismo, levando em consideração o ser humano em relação ao seu poder de compra, reduziu nossos valores, nossa cultura, a uma mera mercadoria, em que o mais importante é o lucro de quem a produz. Como é que isso não vai criar um "vazio cultural"? Como é que isso não vai destruir tudo o que acreditamos, a partir de um momento que o que acreditamos não vender mais e ser demonizado pelo mercado?
Claro que essa experiência tem algo positivo, como a crescente globalização em que estamos inseridos, porém, até mesmo esse conceito de "globalização" precisa ser revisto, tendo em vista o caráter desigual das forças envolvidas. Enfim, vivemos uma era de transformações, uma era de união, embora, nos dizeres de Berman, "uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia."

Bruno Machado "Animal"
é graduado em História pela UNESP/Franca.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Conferência de Copenhagem: UMA VERGONHA!!!

O conflito de interesses entre os países ricos e pobres ou emergentes, constituiu o principal motivo do impasse que dominou a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15),realizada em Copenhaguem (Dinamarca).

Até a última sexta-feira (18),estando reunidos 193 dos principais chefes de estado e de governo do mundo para um acordo político sobre as emissões de gases poluentes à atmosfera,imbecilmente os citados representantes não tiveram a capacidade de chegar a uma solução.

A mediocridade que perdura no mundo globalizado não permite à humanidade esperar muito da cúpula do clima que a Organização das Nações Unidas realizou em Copenhague. A avaliação é do senador Cristovão Buarque (PDT-DF), que chegou à convenção desiludido com as "preocupações miúdas" que rondam o mundo político.

De acordo com vários representantes dos países pobres e em desenvolvimento,os países desenvolvidos por serem historicamente os maiores emissores de poluentes tem o dever de participarem e assumir uma política de metas mais ambiciosas na redução dos gases do efeito-estufa.

Lula afirmou que “É inaceitável que os menores responsáveis pela mudança climática sejam suas primeiras e principais vítimas do aquecimento global,as fragilidades de uns não podem servir de pretexto para o recuo e vacilação de outros”.

Segundo o presidente, “não é politicamente racional nem moralmente justificável colocar interesses corporativos e setoriais à frente do bem comum da humanidade.”
Os considerados mais poluidores do mundo como EUA e China foram os que não aceitaram as exigências da ONU,e não concordou com uma política de resultados da redução dos gases,contribuindo para a o “FRACASSO HISTÓRICO” do acordo.

O presidente da ONG “Amigos da Terra” Nnimmo Bassey, ,disse que sente "nojo" pelo "fracasso dos países ricos" na hora de fixar objetivos ambiciosos e acusou o bloco industrializado de "acossar" os países em vias de desenvolvimento a "aceitar menos" do que merecem.

E assim foi finalizada a VERGONHOSA Conferência de Copenhaguem sobre o clima,com um acordo, de caráter não vinculativo,no qual está longe das expectativas geradas em torno da maior reunião sobre mudança climática da história e que não fixa objetivos de redução de gases.

Maiara Mano
é graduada em História pela UNESP/Franca.